Começar bem uma temporada eleva a moral e pressiona a concorrência, sendo um passo fundamental para alcançar o título de campeão.
O provérbio português “candeia que vai à frente alumia duas vezes” sugere que quem lidera cedo obtém uma vantagem significativa. Esta máxima tem encontrado um certo eco na Primeira Liga portuguesa de futebol. Nos últimos cinco anos, a equipa que se encontrava na liderança nas jornadas iniciais do campeonato sagrou-se campeã em três ocasiões. Ao alargar esta análise para as primeiras 10 jornadas, a correlação é ainda mais evidente, registando um domínio total.
Com o início do campeonato a aproximar-se, procedemos a uma análise para verificar a existência de uma correlação entre assumir a liderança inicial e alcançar o título de campeão. A investigação foi dividida em duas fases: a primeira abrangeu as cinco primeiras jornadas, e a segunda, as dez primeiras.
Análise a cinco jornadas: três em cinco
Curiosamente, nas últimas três épocas, a equipa que liderava ao fim de cinco rondas acabou por se sagrar campeã. Na época 2024/25, o Sporting, sob o comando de Rúben Amorim (antes da sua mudança para o Manchester United), registou um arranque perfeito com vitórias em todos os jogos, o que levou à conquista do campeonato. O FC Porto encontrava-se em terceiro lugar com 12 pontos, enquanto o Benfica, com 10 pontos, terminou a época na segunda posição, atrás dos Leões.
No ano do primeiro título do bicampeonato leonino, o Sporting também se encontrava na frente da I Liga após as cinco primeiras jornadas, embora com os mesmos 13 pontos que o Boavista e o FC Porto, e mais um que o Benfica. No final, o Benfica ficou 10 pontos atrás do Sporting, que concluiu o campeonato com notáveis 90 pontos. O FC Porto terminou em 3.º lugar, com 72 pontos.
Confirmando esta tendência, o Benfica, sob a liderança de Roger Schmidt, conquistou a totalidade dos pontos nas cinco primeiras jornadas da época 2022/23. O SC Braga seguia com menos dois pontos, e o FC Porto e o Portimonense registavam 12 pontos cada. No desfecho, o Benfica consagrou-se campeão, com uma vantagem de dois pontos sobre o FC Porto. O Sporting, que se encontrava em oitavo lugar nas cinco primeiras jornadas (com sete pontos), foi superado pelo SC Braga, terminando a competição na quarta posição.
A temporada 2021/22 apresentou um cenário distinto. O Benfica, liderado por Jorge Jesus, alcançara 15 pontos em cinco jogos, à frente do surpreendente Estoril (13) e com uma vantagem de quatro pontos sobre FC Porto e Sporting. Contudo, a celebração final foi do FC Porto, sob o comando de Sérgio Conceição, que conseguiu uma reviravolta notável, terminando campeão com impressionantes 91 pontos, superando o Sporting (85). O Benfica, já com Nélson Veríssimo no banco, ficou em terceiro lugar com 74 pontos.
A época 2021/22 espelhou, de certa forma, o que ocorrera na temporada anterior, 2020/21, em que o Benfica também tinha somado os 15 pontos possíveis nas cinco primeiras jornadas, à frente do Sporting (por dois pontos) e do FC Porto (por cinco). No entanto, após as 34 rondas, a glória coube ao Sporting, com Rúben Amorim a conquistar um título que lhes escapava há 19 anos. Os Leões somaram 85 pontos, contra 80 dos Dragões, enquanto o Benfica terminou em terceiro, com 76 pontos.
Análise a 10 jornadas: domínio total
Quando a análise é alargada para as primeiras 10 jornadas, o provérbio “candeia que vai à frente alumia duas vezes” revela uma aplicabilidade total. Nas últimas cinco temporadas, todas as equipas que se encontravam na liderança da I Liga após a décima ronda acabaram por se sagrar campeãs.
Na temporada anterior, o Sporting, ainda sob a batuta de Rúben Amorim, acumulou o máximo de pontos possíveis nas primeiras 10 jornadas. O FC Porto, com Vítor Bruno, seguia de perto com 27 pontos (apenas uma derrota em Alvalade), enquanto o Benfica tinha 25. No final, como mencionado, o Sporting alcançou o bicampeonato, numa época que viu três treinadores (Rúben Amorim, João Pereira e Rui Borges), terminando com 82 pontos, dois a mais que o Benfica. A temporada turbulenta do FC Porto, com a substituição de Vítor Bruno por Martin Anselmi em janeiro, resultou num terceiro lugar, com 71 pontos.
O Sporting já havia demonstrado o seu domínio na época anterior, quando conquistou o campeonato. Em 2023/24, a equipa leonina registava nove vitórias e um empate nas primeiras dez jornadas, mantendo o Benfica a três pontos e o FC Porto a cinco. No final, o país `pintou-se` de verde e branco, com o Sporting a somar impressionantes 90 pontos, mais 10 que o Benfica e mais 18 que o FC Porto de Sérgio Conceição.
No último título do Benfica, na época 2022/23, os Encarnados apresentavam um registo de nove vitórias e um empate à décima jornada, fruto de um excelente início de temporada. O FC Porto, principal adversário, já estava a seis pontos, e o Sporting a nove. Tais desvantagens são geralmente difíceis de anular, tornando a celebração benfiquista no final inevitável, apesar de alguma instabilidade na fase final: 87 pontos, contra 85 do FC Porto, que lutou até à última jornada. O Sporting terminou em quarto lugar com 74 pontos, menos quatro que o surpreendente SC Braga de Artur Jorge, que garantiu o pódio com 78 pontos.
No último campeonato conquistado por Sérgio Conceição no comando do FC Porto, em 2021/22, os Dragões também lideravam, empatados com o Sporting (ambos com 26 pontos), enquanto o Benfica os observava de perto (25 pontos). O FC Porto manteve a sua `luz` acesa ao longo de toda a competição, culminando com a festa nos Aliados, ao somar 91 pontos (com apenas uma derrota, frente ao SC Braga na 31.ª jornada). Os impressionantes 85 pontos do Sporting, que noutras épocas seriam suficientes para o título, valeram apenas o segundo lugar. O Benfica, que substituiu Jorge Jesus por Nélson Veríssimo a meio da época, terminou em terceiro, com 74 pontos.
Na época 2020/21, que pôs fim a um jejum de 19 anos do Sporting sem ser campeão, Rúben Amorim justificou plenamente o investimento de Frederico Varandas. Após 10 jornadas, o Sporting era a única equipa invicta, com dois empates e 26 pontos. O Benfica (24 pontos) e o FC Porto (22) tentaram a perseguição, mas sem sucesso: a celebração leonina foi discreta devido à pandemia de COVID-19.
Numa liga onde FC Porto, Sporting e Benfica exercem um domínio evidente e raramente perdem pontos contra os clubes de menor dimensão, um arranque forte parece ser um fator decisivo para a conquista do campeonato.
Resta aguardar o desenrolar da temporada 2025/26, na qual o Sporting procurará o tricampeonato após a saída de Gyökeres, o seu principal goleador. Benfica e FC Porto, por sua vez, mostraram-se muito ativos no mercado de transferências, com avultados investimentos, salientando-se a mudança de treinador no FC Porto, agora sob a orientação do italiano Francesco Farioli.